domingo, 2 de maio de 2010

Um país protagonista

Não é o principal motivo de orgulho para os brasileiros o fato de seu presidente ter sido escolhido pela principal revista estadunidense Time* como um dos líderes mais influentes do mundo. Em 25 de março, do ano passado o editor Fareed Zakaria, da revista britânica Newsweek*, dizia ao presidente brasileiro ser ele “provavelmente o líder mais popular no mundo”. E perguntava: “Por quê?". Lula respondeu: "nós tentamos provar que era possível desenvolver crescimento econômico simultaneamente com melhora na distribuição de renda". Essa é provavelmente a grande diferença do Brasil de hoje para o Brasil de ontem, quando nossa economia era dirigida pelos homens do FMI. Não por brasileiros. Em 2004, Lula já estava na lista da mesma Time*. A revista reconhecia a liderança do presidente brasileiro numa “coalizão de nações em desenvolvimento que se recusaram a negociar novas regras de investimento estrangeiro até que os EUA e a União Europeia prometessem o fim dos subsídios agrícolas à exportação”. Para a revista, "ao contrário dos radicais contra a globalização, Lula insiste que não quer destruir a nova ordem mundial. Ele só quer que ela funcione de forma mais justa". Também não é o ponto principal do orgulho brasileiro o fato de, no ano passado, Lula haver recebido destaque internacional ao ser eleito personagem do ano pelo jornal espanhol El País* e “o homem do ano” pelo francês Le Monde*. Para El País, Lula é “um homem que assombra o mundo... ele é cabal e tenaz”. Para Le Monde, “aos olhos de todos (Lula) encarna o renascimento de um gigante”. Em dezembro, o jornal britânico Financial Times* também escolheu o presidente brasileiro como uma das 50 personalidades que moldaram a última década, porque “é o líder mais popular da história do Brasil”. “Charme e habilidade política... baixa inflação... programas eficientes de transferência de rendas...", disse o jornal. Talvez devêssemos considerar que neste ano de 2010, antes da honraria da Time, o Brasil já havia sido distinguido pela Academia de Ciências Sociais da China*. Os chineses querem mais representação para os emergentes, como o Brasil, “por serem indispensáveis”. No mais: O Times of Índia* trata o presidente brasileiro de "herói em casa e estadista no palco global", "o homem do momento". Por seu turno, o estadunidense Yale Global* disse do Brasil: “rompeu a aliança automática e submissa com os EUA e surfou a onda da globalização para se tornar uma potência econômica e diplomática”. Ainda nos EUA, The Wall Street Journal*, de 29/03, é ainda mais otimista em matéria de capa: “A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas de nosso tempo. Não está somente redefinindo a América Latina, mas também a economia do mundo inteiro”. De Israel, o importante Haaretz* destacou o presidente Lula como o “Profeta do diálogo”, "o mais popular chefe de estado da história do país", de quem "o consenso universal é que simplesmente é impossível não gostar dele". Não se pode deixar de sentir orgulho, no entanto, quando a comunidade midiática internacional reconhece o país Brasil como protagonista da economia e da política mundiais. Foi exatamente isto que constatou a quinta edição do levantamento feito pela agência de comunicação Imagem Corporativa*, a partir de referências ao Brasil na mídia internacional nos primeiros três meses deste ano. Em comparação com o primeiro trimestre de 2009, a exposição brasileira deu um salto expressivo, passando de 671 para 1.111 matérias, sendo que cerca de 82% delas apresentam conteúdo favorável. Um orgulho que será completo quando os veículos de comunicação do Brasil trocarem a militância política pelo bom jornalismo.

sábado, 1 de maio de 2010

Sentir-se amado

"O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama.

Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.

Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se.

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também?

Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho".

Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato."

Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta.

Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo."

A Bíblia pela ótica Feminina - Texto de Frei Betto

A menina marcava as páginas onde estavam impressas aquelas leis absurdas com a intenção de, mais tarde, arrancá-las. 0 pai explicou-lhe que era inútil, havia muitos outros livros com as mesmas leis. quisesse mudá-las, teria de convencer as pessoas que faziam leis.

Lida por esta ótica, a Bíblia revela a igualdade entre homens e mulheres e denuncia a leitura machista que pretende derivar dos desígnios de Deus instrumentos de dominação, como a interdição de acesso das mulheres ao sacerdócio e ao episcopado, e a preponderância masculina sob o pretexto de que Eva foi criada a partir da costela de Adão — quando a natureza não deixa dúvidas de que todo homem nasce do corpo de uma mulher.

0 evangelista Mateus aponta, na árvore genealógica de Jesus; cinco mulheres. Tamar, Raab, Rute e Maria; e de modo implícito, a mãe de Salomão, aquela "que foi mulher de Urias". Não é bem uma ascendência da qual um de nós haveria de se orgulhar.

Em sua atividade pública, Jesus se fez acompanhar pelos Doze e por algumas mulheres: Maria Madalena; Joana, mulher de Cuza, o procurador de Herodes; Susana e várias outras. Portanto, o grupo de discípulos de Jesus não era propriamente machista. Além disso, Jesus freqüentava, em Betânia, a casa de suas amigas Marta e Maria, irmãs de Lázaro.

O primeiro milagre de Jesus foi para atender ao pedido de uma mulher, Maria, sua mãe, preocupada com a falta de vinho numa festa de casamento em Canã.

Escolhido por Jesus para ser o primeiro Papa, Pedro era casado.

Em nosso país, destacam-se Ana Flora Anderson, Teresa Cavalcanti, Wanda Deifelt e Athalya Brenner. O Centro de Estudos Bíblicos (Cebi) há anos forma, pelo Brasil afora, homens e mulheres dos setores populares em novos métodos de interpretação bíblica, pondo fim ao monopólio clerical e machista.

Descobrir que a mulher ocupa na Bíblia lugar e importância iguais aos do homem é questionar as igrejas que, às vésperas do terceiro milênio, insistem em reservar aos homens as funções de poder. E, por tabela, subverter os valores desta sociedade que considera a direção política um talento masculino e a questão social um derivativo da primeira dama, e ilustra sua publicidade televisiva e as páginas das revistas com mulheres que se prestam a ser reificadas, reduzidas ao mero apelo de consumo material e simbólico e, no entanto, queixam-se quando tratadas pelos homens como objetos descartáveis.